sexta-feira, 20 de maio de 2011

O reitor da USP e a questão da segurança no campus

Gostaria de comentar brevemente uma entrevista que o Reitor da Universidade de São Paulo João Grandino Rosas deu para a Folha de São Paulo sobre o assassinato de um aluno de economia dentro do campus nesta semana. Comento em linhas gerais e muito rapidamente, e também esperando e torcendo para que esta discussão se prolongue, já que estudei e vivi neste campus por cinco anos e meio, e sei que a Reitoria nunca se animou em discutir questões e medidas de segurança que extrapolassem a recomendação do aumento da quantidade de policiais no campus. Para os últimos reitores dessa universidade, segurança se resume a presença policial, e nada é pensado ou feito a favor do aumento da "urbanidade" no campus, ou para a melhoria da relação entre este espaço, que é público, e seus frequentadores, seja alunos, funcionarios, visitantes ou membros das comunidades vizinhas. Além disso, existe por parte da gestão do campus, uma resistência jã bastante conhecida em chamar a comunidade a discutir a questão da segurança. Quando isso acontece, obviamente não participam delas as comunidades frequentadoras do campus - às quais se somam por exemplo grupos esportivos - e menos ainda as comunidades vizinhas ao campus, que são vistas como "intrusas" e indesejadas, embora também sustentem a bolha USP com seus impostos. 

Para quem não leu, o link abaixo...

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/918353-apos-assassinato-reitor-vai-cobrar-mais-policia-na-usp.shtml

Note-se que a única idéia revolucionária que teve o Sr João Grandino Rodas foi colocar todas as suas expectativas de aumento da segurança do campus nas mãos da presença da polícia. 

Como Reitor desta universidade e trabalhando no maior campus do país, ele nao formula nenhuma outra alternativa que nao seja essa, nao toca no assunto das inúeras e caríssimas cameras de segurança, que até agora só serviram para gerar constrangimentos para os próprios alunos, não fala nada da falta de preparação da guarda do campos, e menos dos assédios e intimidações dela sobre os alunos e principalemnte alunas, nao fala nada da ausencia de transporte público aos fins de semana, e nao menciona o fato de que esse controle de portarias que realizam tem como único resultado esvaziar o campus a noite e aos fins de semana, barrando   visitantes e tornando o campus um lugar ermo e esvaziado, onde tudo pode sim acontecer porque todos os espaços foram tornados lugares de passagem e transito, e impedindo uma relação de convidência da populacao com esses espaços. 

Também não comenta o fato, um pouco contraditório da idéia de que o campus é inseguro, de que este é um local de preferencia para atletas e esportistas da classe média e alta que povoam determinadas ruas do campus em determinados horarios aos sábados e domingos, levados por suas agências e seus personal trainers. Para esse grupo de pessoas este é sim um lugar seguro em relação a outros parques da cidade de São Paulo, já que podem estacionar seus carros sem pagar estacionamento, correr e praticar esportes sem se preocupar com o trânsito de pedestres ou de carros, e lá estão livres da massa de "cidadãos diferenciados" com os quais deveriam dividir espaço caso fossem praticar esporte em outro lugar público. Já que a entrada ao campus da USP é controlada nos fins de semana, só sendo permitida a alunos e funcionarios com identificação e justificativa, ou para esses carros com logomarcas de academias de luxo, lá se pratica esporte quase sem ter que lembrar que se está em São Paulo, salvo quando algum garotinho das comunidades vizinhas que conseguiu "penetrar" o feudo passa pedindo "tio, me paga um lanche?". 

O que ninguém diz também é que a policia já está sim no campus, diariamente, fazendo sim blitz, já faz anos, e que esse campus é um do lugares mais bem vigiados de São Paulo, se formos considerar a relação metro quadrado, densidade demográfica e qtde de policiais e guardas. 

Parece que chegou a hora de expandir os horizontes e pensar em novos parâmetros de segurança a longo prazo, de construir um outro tipo de relaçao entre populacao e campus, que nao seja mediada por cameras e vigilancia policial, e que nao dependa da ostentação da violencia armada para se sustentar. Chegou a hora de pensar o campus como um espaço integrado e dependente a uma cidade, o que significa que, transforma-lo numa bolha big brother com circuitos altamente iluminados e vigiados em todas as esquinas nao vai garantir seguranca e qualidade de vida para frequentadores do campus, já que inibe ao invés de permitir a apropriaçao desses espaços pelos cidadãos que o sustentam e para os quais, em teoria, esses espaços também devem existir e servir.