sábado, 31 de dezembro de 2011

Minha Retrospectiva 2011


Estamos no último dia do ano e esse blog (cuja idéia surgiu em janeiro e começou a ser posta em prática em maio) ainda reflete o meu dilema em ter um blog temático ou ter um blog „diário“. O ano acabou e eu ainda não me decidi, apesar de defender que blogs não podem ser uma mistureba. Acho no entanto que ainda estou me descobrindo, aprendendo não só a usar ferramentas como também me integrando ao mundo dos blogueiros e blogagens, sentindo cualé e me permitindo esse espaço (que pode ser uma zona, mas é meu, tá?!). Bem, deixo pra refletir isso num outro post, que sigo devendo, e com isso explico que hoje vou postar uma retrospectiva 2011 bem pessoal, falando do meu ano.

Comecei o ano „a full“, mesmo porque aqui janeiro é meio de semestre, dia 3 era segunda e eu já tinha aula de manhãzinha. Estava odiando o primeiro semestre do mestrado, frustrada com matérias, professores, colegas. Além disso tinha que me apresentar para os exames de proficiência de língua, e além de serem caríssimos e eu e o Respectivo estarmos fa-li-dos, se eu não aprovasse nenhum dos dois eu seria desligada – pra usar o eufemismo – do curso. Bem, estudando alemão que nem uma idiota, fazendo milhões de trabalhos e apresentando zilhões de seminários na pós, e sob uma super pressão que eu mesma me impunha... O fato mais marcante desse mês foi eu explodindo em prantos na frente dos meus colegas de curso no dia do simulado, e a professora indo atrás de mim pra ver se eu não tinha me enforcado no banheiro, hehehe. Olhando pra trás, vejo como sou exagerada: eu não só conhecia ambas provas porque já tinha feito e aprovado ambas uma vez, como estava muito melhor preparada. He, minha auto-confiança é grande, mas quando falha eu vou te contar... Outro fato importante foi encontrar um companheiro da minha facul do Brasil aqui, e ao comentarmos do passado e do presente eu comecei a refletir sobre muitas coisas. Daí nasceu a primeira chispa de vontade de fazer o blog.

Fevereiro foi o mês das provas de proficiência, tive muitas demonstrações de apoio e companheirismo por parte do Respectivo e algumas demonstrações de amizade muito importantes que queria mencionar: a primeira foi a amiga que fazia Yoga comigo pra me acalmar. A segunda foi da amiga que se encontrou comigo horas e horas antes da prova pra me ajudar a desencanar com a prova de fala. Pro bem geral e sossego da nação eu passei! A essas alturas um dos meus grupos de teatro já estava entrando de férias, e com o outro estávamos preparando um mini espetáculo que apresentamos duas vezes em Março e Abril. Se um dia alguém quiser uma dica de esporte radical eu tenho: faça teatro de improvisação em alemão. Depois disso ninguém mais vai duvidar da sua coragem e superação! Rá! Fora isso Março e Abril foram meses mornos, passei escrevendo trabalhos de faculdade e lamentando que a primeira não ia dar espaço pro Verão tão cedo. Como não deu.

Em Maio já estava me livrando do vazio das férias, semestre recém começado na faculdade, esperanças renascendo quanto ao mestrado, mas não quanto à maioria dos colegas. Desfrutei já com pitadinhas de saudade cada momento em cima da bicicleta indo e voltando da facul ou de qualquer lugar a onde ia. Dói saber que no Brasil a coisa caminha pro sentido inverso: sem carro ninguém pode sonhar em chegar a lado nenhum. Comecei o blog, depois de ter negociado com alguns amigos e amigas um blog coletivo, ou pelo menos em dupla. Percebi que a idéia do blog animava o povo, mas ninguém se sente livre o suficiente pra perder ou se roubar 2 horinhas por mês pra escrever o que quer que seja. Não culpo ninguém. Afinal, a necessidade era minha, e desejo, mais que nada.

Sobrevivi Junho, e pode ser que esteja me esquecendo de algo importante, já que minha agenda está vazia nessas datas, e por tanto, houve coisas tão importantes que eu nem precisei anotar, já que não ia esquecer de jeito nenhum...Estratégia furada essa! Julho foi o mês do prenúncio da ansiedade e confusão que iria marcar todos os próximos meses do ano: fomos à imigração para nos informar das possibilidades – baseadas na minha necessidade real de terminar o mestrado – de renovar meu visto. Desilusão, desilusão, danço eu dança você, na dança da solidão! Ia ser, e foi, bem mais difícil do que o vaticinado. Mas conto essa história outra hora com detalhes, pros que estiverem interessados em saber a furada que é fazer mestrado „nos estrangeiros“ sem bolsa e sem paitrocínio.

Em julho também aconteceu o primeiro festival de Tango Queer de Berlin, fato que me deixou muito empolgada e fez que minha pesquisa tomasse novo fôlego um pouco. Mas nada como as férias de verão europeu, quando todo mundo some, e a minha posterior volta às aulas, pra fuder com a disciplina e com a pesquisa tudo outra vez...Também fiz uns cursos pra refrescar o inglês que, digamos de maneira discreta, não é a língua que mais gosto de falar. Mas os nativos deste país aprendem idiomas muito bem e desde criancinhas, fazem mil intercambios com mil países, têm cursos de línguas baratíssimos ou grátis em cada esquina. Por mais que role a política do „contrate um estrangeiro“ e supondo que ela funcione, como que uma cidadã de classe média baixa do mundo subdesenvolvido e egressada das escolas públicas brasileiras vai competir no mercado de trabalho? Cri cri cri...

E falando nisso, Agosto e Setembro foram marcados por mais entrevistas de trampo sem sucesso. Em Agosto fiz aniversário, e a festinha foi klein aber fein. Viajei com o meu Respectivo e um amigo dele a Praga e voltando com Pitstop em Munique, viagem esta cheia de aventuras e surpresas do início ao fim como vcs podem ler aqui, bem ao estilo „desbravando“ o que a Europa pode oferecer ao turista pobre de marrédesi. Também perdi muito tempo tentando encontrar trabalho e soluções para o prolongamento do tal visto, já tentando fazer com antecedência e evitar apuros. Cheguei a pensar que talvez não valesse a pena tanto esforço pra estudar aqui, e ocupar um lugar que, na boa, é pra um aluno que tenha condições de se manter aqui sem ter que trabalhar (no sentido brasileiro do termo, quer dizer, de verdade). No fim do mês entrei para o coletivo Blogueiras Feministas. Aos poucos vou conquistando meu espacinho por lá. Isso foi nesse momento e continuará sendo uma super fonte de alegrias para mim.

No fim de Setembro e início de Outubro uma viagem com quase tudo pago à Espanha me reacendeu, reativou as nossas forças e ajudou a olharmos os problemas por outros ângulos. A viagem que começou em Madrid, teve seu ápice em Granada e terminou em Berlim, numa reunião bem pouco convencional de membros da família do Respectivo. Pra pendurar na parede da memória! Outubro: a água já tava batendo no queixo, e nada de visto em vista. Tentamos ajuda de alguns amigos, outros se ofereceram pra ajudar mas melhor se não o tivessem feito, outros perguntavam, por perguntar, o quê podiam fazer. Começamos a nos afundar nos cartões, esperando pagamentos de trabalhos que não vinham e promessas que não terminavam de cumprir-se. Voltam as aulas, eu já melhor adaptada e já gostando mais do curso desde o semestre anterior, quando começaram as matérias do meu perfil de especialização (estudos de gênero). Bate a desconfiança de que o visto do Respectivo não ia rolar: marcamos data pra nossa despedida. Ele começa a ficar ansiosinho por nós e por mim, qualidade de vida vai pro saco, noites sem dormir, distúrbios de concentração.

Em Novembro se intensificou a maior pindaíba de que tenho memória, tanto que o respectivo nem quis que comemorássemos seu niver, de tão tristinho que estava. O tal do trampo salvador sai, mas o contrato demorou até meados de dezembro. Dívidas, cartão afundado, clima de despedida, ansiedade pelo visto, incerteza. Acho que os pontos positivos foram os trabalhos que apresentei na facul, que foram elogiados, as conversas que tive com amigos de verdade, tentando me ajudar a todo custo, e um paper super polêmico que escrevi em coautoria, que me rendeu algo muito especial além do reconhecimento acadêmico: que foi ter a chance de trabalhar e pensar num ensaio junto com o amore. Mas claro que nos intervalos do paper a gente discutia as dívidas e os problemas...hehehe.

Dezembro: um turbilhão que eu ainda não processei direito. Saiu o visto, saiu o trabalho, o amore foi-se embora pro novo continente, eu assumi as burocracias e as buchas do casal por aqui, apresentei o paper super polêmico num congresso aqui, tudo misturado e não exatamente nessa ordem. Também tive que apresentar avanços do meu trabalho e infelizmente havia avançado menos do que queria. Passei um dias morando sozinha, curtindo a saudade, a solidão, mas também um espaço gostosinho pra me curtir e me pensar, já meio fora do olho do furacão, como comentei nesse post aqui. Mais perto do Natal ganhei dois companheiros de apê que já eram meus muito amigos, e isso me deixou felicíssima. Junto com eles e um casal de amigos fofos fizemos uma ceia de natal, e parece que vamos conseguir agitar uma mini festinha da Virada aqui em casa também. Na euforia de reviver meu tempos de morar no Crusp e atolada de trabalhos e burocracias sem fim, continuo com concentração zero e já sendo impelida a pensar em minha volta pra „casa“ em poucos meses.

Achei 2011 um ano pesado, no qual vi muitas descobertas sendo afogadas, e minhas forças sendo consumidas por coisas que poderiam ter sido mais simples. Quê dizer? Culpar alguém? Pra quê? Mesmo que possa encontrar culpados e apontar o dedo indicador cem vezes no nariz do culpado, isso não me faz melhor. Sim, cresci e aprendi com tanta cabeçada que demos, eu e o benzinho. Mas algo teria aprendido se tudo tivesse sido diferente. E quem sabe sem me frustrar tanto.

Deixo aos que lerem este post um poema que me inspira há vários anos, e do qual me lembro não só nas Viradas. Espero que curtam e que possa inspirar a outros também. Feliz ano novo!

Final de año
Ni el pormenor simbólico
de reemplazar un tres por un dos
ni esa metáfora baldía
que convoca un lapso que muere y otro que surge
ni el cumplimiento de un proceso astronómico
aturden y socavan
la altiplanicie de esta noche
y nos obligan a esperar
las doce irreparables campanadas.
La causa verdadera
es la sospecha general y borrosa
del enigma del Tiempo;
es el asombro ante el milagro
de que a despecho de infinitos azares,
de que a despecho de que somos
las gotas del río de Heráclito,
perdure algo en nosotros:
inmóvil,
algo que no encontró lo que buscaba.

Jorge Luis Borges