Estamos
no último dia do ano e esse blog (cuja idéia surgiu em janeiro e
começou a ser posta em prática em maio) ainda reflete o meu dilema
em ter um blog temático ou ter um blog „diário“. O ano acabou e
eu ainda não me decidi, apesar de defender que blogs não podem ser
uma mistureba. Acho no entanto que ainda estou me descobrindo,
aprendendo não só a usar ferramentas como também me integrando ao
mundo dos blogueiros e blogagens, sentindo cualé e me permitindo
esse espaço (que pode ser uma zona, mas é meu, tá?!). Bem, deixo
pra refletir isso num outro post, que sigo devendo, e com isso
explico que hoje vou postar uma retrospectiva 2011 bem pessoal,
falando do meu ano.
Comecei
o ano „a full“, mesmo porque aqui janeiro é meio de semestre,
dia 3 era segunda e eu já tinha aula de manhãzinha. Estava odiando
o primeiro semestre do mestrado, frustrada com matérias,
professores, colegas. Além disso tinha que me apresentar para os
exames de proficiência de língua, e além de serem caríssimos e eu
e o Respectivo estarmos fa-li-dos, se eu não aprovasse nenhum dos
dois eu seria desligada – pra usar o eufemismo – do curso. Bem,
estudando alemão que nem uma idiota, fazendo milhões de trabalhos e
apresentando zilhões de seminários na pós, e sob uma super pressão
que eu mesma me impunha... O fato mais marcante desse mês foi eu
explodindo em prantos na frente dos meus colegas de curso no dia do
simulado, e a professora indo atrás de mim pra ver se eu não tinha
me enforcado no banheiro, hehehe. Olhando pra trás, vejo como sou
exagerada: eu não só conhecia ambas provas porque já tinha feito e
aprovado ambas uma vez, como estava muito melhor preparada. He, minha
auto-confiança é grande, mas quando falha eu vou te contar... Outro
fato importante foi encontrar um companheiro da minha facul do Brasil
aqui, e ao comentarmos do passado e do presente eu comecei a refletir
sobre muitas coisas. Daí nasceu a primeira chispa de vontade de
fazer o blog.
Fevereiro
foi o mês das provas de proficiência, tive muitas demonstrações
de apoio e companheirismo por parte do Respectivo e algumas
demonstrações de amizade muito importantes que queria mencionar: a
primeira foi a amiga que fazia Yoga comigo pra me acalmar. A segunda
foi da amiga que se encontrou comigo horas e horas antes da prova pra
me ajudar a desencanar com a prova de fala. Pro bem geral e sossego
da nação eu passei! A essas alturas um dos meus grupos de teatro já
estava entrando de férias, e com o outro estávamos preparando um
mini espetáculo que apresentamos duas vezes em Março e Abril. Se um
dia alguém quiser uma dica de esporte radical eu tenho: faça teatro
de improvisação em alemão. Depois disso ninguém mais vai duvidar
da sua coragem e superação! Rá! Fora isso Março
e Abril foram meses mornos, passei escrevendo trabalhos de faculdade
e lamentando que a primeira não ia dar espaço pro Verão tão cedo.
Como não deu.
Em
Maio já estava me livrando do vazio das férias, semestre recém
começado na faculdade, esperanças renascendo quanto ao mestrado,
mas não quanto à maioria dos colegas. Desfrutei já com pitadinhas
de saudade cada momento em cima da bicicleta indo e voltando da facul
ou de qualquer lugar a onde ia. Dói saber que no Brasil a coisa
caminha pro sentido inverso: sem carro ninguém pode sonhar em
chegar a lado nenhum. Comecei o blog, depois de ter negociado com
alguns amigos e amigas um blog coletivo, ou pelo menos em dupla.
Percebi que a idéia do blog animava o povo, mas ninguém se sente
livre o suficiente pra perder ou se roubar 2 horinhas por mês pra
escrever o que quer que seja. Não culpo ninguém. Afinal, a
necessidade era minha, e desejo, mais que nada.
Sobrevivi
Junho, e pode ser que esteja me esquecendo de algo importante, já
que minha agenda está vazia nessas datas, e por tanto, houve coisas
tão importantes que eu nem precisei anotar, já que não ia esquecer
de jeito nenhum...Estratégia furada essa! Julho foi o mês do
prenúncio da ansiedade e confusão que iria marcar todos os
próximos meses do ano: fomos à imigração para nos informar das
possibilidades – baseadas na minha necessidade real de terminar o
mestrado – de renovar meu visto. Desilusão, desilusão, danço eu
dança você, na dança da solidão! Ia ser, e foi, bem mais difícil
do que o vaticinado. Mas conto essa história outra hora com
detalhes, pros que estiverem interessados em saber a furada que é
fazer mestrado „nos estrangeiros“ sem bolsa e sem paitrocínio.
Em
julho também aconteceu o primeiro festival de Tango Queer de Berlin,
fato que me deixou muito empolgada e fez que minha pesquisa tomasse
novo fôlego um pouco. Mas nada como as férias de verão europeu,
quando todo mundo some, e a minha posterior volta às aulas, pra
fuder com a disciplina e com a pesquisa tudo outra vez...Também fiz
uns cursos pra refrescar o inglês que, digamos de maneira discreta,
não é a língua que mais gosto de falar. Mas os nativos deste país
aprendem idiomas muito bem e desde criancinhas, fazem mil
intercambios com mil países, têm cursos de línguas baratíssimos
ou grátis em cada esquina. Por mais que role a política do
„contrate um estrangeiro“ e supondo que ela funcione, como que
uma cidadã de classe média baixa do mundo subdesenvolvido e
egressada das escolas públicas brasileiras vai competir no mercado
de trabalho? Cri cri cri...
E
falando nisso, Agosto e Setembro foram marcados por mais entrevistas
de trampo sem sucesso. Em Agosto fiz aniversário, e a festinha foi
klein aber fein. Viajei com o meu Respectivo e um amigo dele a Praga
e voltando com Pitstop em Munique, viagem esta cheia de aventuras e
surpresas do início ao fim como vcs podem ler aqui, bem ao estilo
„desbravando“ o que a Europa pode oferecer ao turista pobre de
marrédesi. Também perdi muito tempo tentando encontrar trabalho e
soluções para o prolongamento do tal visto, já tentando fazer com
antecedência e evitar apuros. Cheguei a pensar que talvez não
valesse a pena tanto esforço pra estudar aqui, e ocupar um lugar
que, na boa, é pra um aluno que tenha condições de se manter aqui
sem ter que trabalhar (no sentido brasileiro do termo, quer dizer, de
verdade). No fim do mês entrei para o coletivo Blogueiras
Feministas. Aos poucos vou conquistando meu espacinho por lá. Isso
foi nesse momento e continuará sendo uma super fonte de alegrias
para mim.
No
fim de Setembro e início de Outubro uma viagem com quase tudo pago à
Espanha me reacendeu, reativou as nossas forças e ajudou a olharmos
os problemas por outros ângulos. A viagem que começou em Madrid,
teve seu ápice em Granada e terminou em Berlim, numa reunião bem
pouco convencional de membros da família do Respectivo. Pra pendurar
na parede da memória! Outubro: a água já tava batendo no queixo, e
nada de visto em vista. Tentamos ajuda de alguns amigos, outros se
ofereceram pra ajudar mas melhor se não o tivessem feito, outros
perguntavam, por perguntar, o quê podiam fazer. Começamos a nos
afundar nos cartões, esperando pagamentos de trabalhos que não
vinham e promessas que não terminavam de cumprir-se. Voltam as
aulas, eu já melhor adaptada e já gostando mais do curso desde o
semestre anterior, quando começaram as matérias do meu perfil de
especialização (estudos de gênero). Bate a desconfiança de que o
visto do Respectivo não ia rolar: marcamos data pra nossa despedida.
Ele começa a ficar ansiosinho por nós e por mim, qualidade de vida
vai pro saco, noites sem dormir, distúrbios de concentração.
Em
Novembro se intensificou a maior pindaíba de que tenho memória,
tanto que o respectivo nem quis que comemorássemos seu niver, de tão
tristinho que estava. O tal do trampo salvador sai, mas o contrato
demorou até meados de dezembro. Dívidas, cartão afundado, clima de
despedida, ansiedade pelo visto, incerteza. Acho que os pontos
positivos foram os trabalhos que apresentei na facul, que foram
elogiados, as conversas que tive com amigos de verdade, tentando me
ajudar a todo custo, e um paper super polêmico que escrevi em
coautoria, que me rendeu algo muito especial além do reconhecimento
acadêmico: que foi ter a chance de trabalhar e pensar num ensaio
junto com o amore. Mas claro que nos intervalos do paper a gente
discutia as dívidas e os problemas...hehehe.
Dezembro:
um turbilhão que eu ainda não processei direito. Saiu o visto, saiu
o trabalho, o amore foi-se embora pro novo continente, eu assumi as
burocracias e as buchas do casal por aqui, apresentei o paper super
polêmico num congresso aqui, tudo misturado e não exatamente nessa
ordem. Também tive que apresentar avanços do meu trabalho e
infelizmente havia avançado menos do que queria. Passei um dias
morando sozinha, curtindo a saudade, a solidão, mas também um
espaço gostosinho pra me curtir e me pensar, já meio fora do olho
do furacão, como comentei nesse post aqui. Mais perto do Natal
ganhei dois companheiros de apê que já eram meus muito amigos, e
isso me deixou felicíssima. Junto com eles e um casal de amigos
fofos fizemos uma ceia de natal, e parece que vamos conseguir agitar
uma mini festinha da Virada aqui em casa também. Na euforia de
reviver meu tempos de morar no Crusp e atolada de trabalhos e
burocracias sem fim, continuo com concentração zero e já sendo
impelida a pensar em minha volta pra „casa“ em poucos meses.
Achei
2011 um ano pesado, no qual vi muitas descobertas sendo afogadas, e
minhas forças sendo consumidas por coisas que poderiam ter sido mais
simples. Quê dizer? Culpar alguém? Pra quê? Mesmo que possa
encontrar culpados e apontar o dedo indicador cem vezes no nariz do
culpado, isso não me faz melhor. Sim, cresci e aprendi com tanta
cabeçada que demos, eu e o benzinho. Mas algo teria aprendido se
tudo tivesse sido diferente. E quem sabe sem me frustrar tanto.
Deixo
aos que lerem este post um poema que me inspira há vários anos, e
do qual me lembro não só nas Viradas. Espero que curtam e que possa
inspirar a outros também. Feliz ano novo!
Final
de año
Ni
el pormenor simbólico
de reemplazar un tres por un dos
ni
esa metáfora baldía
que convoca un lapso que muere y otro que
surge
ni el cumplimiento de un proceso astronómico
aturden y
socavan
la altiplanicie de esta noche
y nos obligan a
esperar
las doce irreparables campanadas.
La causa verdadera
es
la sospecha general y borrosa
del enigma del Tiempo;
es el
asombro ante el milagro
de que a despecho de infinitos azares,
de
que a despecho de que somos
las gotas del río de
Heráclito,
perdure algo en nosotros:
inmóvil,
algo que no
encontró lo que buscaba.
Jorge
Luis Borges